Sweet Tooth (2021)
Sweet Tooth é um conto de fadas moderno.
A história de Gus (Christian Convery) e da busca pelo Self (ou pela mãe) é cativante, emocionante e até um pouquinho cruel.
Bem, a natureza das fábulas é que elas são histórias cruéis que funcionam para nos mostrar uma determinada lição de moral. Além da moral, vamos descobrindo ao longo da história que ela tem um conteúdo meio messiânico.
Os quadrinhos criados por Jeff Lemire mostram um mundo que sobreviveu a uma pandemia bem similar ao Covid-19. A grande lição de moral é que nunca mudamos, não importa o que acontecer e temos tanto medo das mudanças que acabamos adotando atitudes extremistas e impensáveis como queimar os vizinhos cantando o poema escocês Auld Lang Syne, cuja versão musical ficou famosa por aqui sob a alcunha de A Valsa da Despedida.

Sim, é pra ter medo do ser humano, mas não de todos.
Você teria medo do Pubba de Will Fortel? Ele manteve o garoto vivo até os dez anos e só o abandonou após ser morto pela milícia conhecida como os Últimos Homens cuja “missão” é capturar os híbridos que nasceram após a doença ter assolado o mundo que muitos acreditam que a culpa pelos problemas do mundo moderno e outros tentam usá-los em sua busca pela cura que devolveria o mundo a sua normalidade.
Teria medo do Doutor Aditya (Adeel Akhtar) que é capaz de tudo para manter Rani (Aliza Vellani), sua esposa doente e tenta esconder seu estado dos vizinhos que tem o hábito de queimar todos os vizinhos doentes?
De Tommy Jepperd (Nonso Anozie), o ex jogador de Futebol americano que virou caçador e acabou virando uma figura paterna involuntária para o pequeno híbrido? Da Ursa (Stefania LaVie Owen) que usou sua fúria adolescente para montar um Greenpeace Teen?
Teria da Dra. Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar), uma especia de Josef Mengele do bem (se é que isso é possível) que faz de tudo para encontrar a cura do vírus H5G9, também conhecido como “a doença”?
Bem, o General Abbot (Neil Sandilands) é assustador, mas essa é a função do vilão, principalmente um que tenta impedir a mudança caçando os híbridos.

Partindo para os finalmentes:
Uma coisa é certa: o primeiro trabalho para a DC do casal Robert Downey Jr. e Susan Downey agradou bastante. O roteirista e diretor Jim Mickle entrega momentos que nos lembram as duas tendências dos anos 80. Se por um lado temos essa coisa meio lírica tipo Conta Comigo, o pano de fundo nos lembra aqueles filmes que mostravam o mundo após o holocausto nuclear, epidemias ou outros elementos distópicos.
Só que é aí que entra a sensibilidade de uma produção que não esconde que é uma fábula contada através de um personagem central que vai trombando nas tramas paralelas meio que por acidente e isso vai formando a bela trama dessa história excelente que nos reserva muitas surpresas.
Como a história não termina nos oito episódios e os três últimos vão destrinchando o mundo da série e nos preparando para o que vem a seguir, fica aquele delicioso gostinho de “quero mais”. Esperamos que a Netflix não faça com essa série o que fez com o sofrível “O Legado de Júpiter” e nos entregue uma segunda temporada.

Bico Doce?
Uma curiosidade: Provavelmente por causa do Lipsync, Sweet Tooth foi traduzidocomo Bico Doce, quando o correto seria Guloso, uma das características do Gus e de sua mãe, a Birdie (Amy Seimetz). Na dublagem, isso é repetido algumas vezes para descrever que eles adoram doces, só que Bico Doce é sinônimo pra quem bajula, não pra quem comete glutonices.