Sabe aquela vez que o Coringa resolveu festejar seu aniversário?
Um Batman “das antigas”.
Hoje em dia, Batman é quase o deus do preparo, é uma força imparável e quase impossível de ser impedida.
Mas… sempre foi assim?
Sim, o Batman só passou a ser o Chuck Norris da DC a partir de 1996, quando os roteiristas decidiram que era assim que ele deveria ser, mas antes disso, bem…
O Batman pré-crise era um atleta fantasiado muito capaz, mas que sabia seu lugar no plano geral, tanto que durante o evento, ele afirmou para seu menino prodígio que tudo que os dois poderiam fazer no meio daquilo tudo era observar.

E foi o que os dois fizeram.
Feliz aniversário, Coringa poderia até ser atual, mas é uma aventura desse Batman.
Ela foi publicada originalmente em Batman 321, de março de 1980.
É o caso de Infeliz Aniversário, Coringa, que foi publicada nos EUA em Batman 321, de março de 1980 e no Brasil, foi a história escolhida para Batman (Em Formatinho) n° 70, que saiu por aqui entre outubro e novembro de 1983, e encerrou a passagem da DC pela EBAL.
Len Wein, Walt Simonson e Dick Giordado. Preciso dizer mais alguma coisa?
Escrita por Len Wein, com arte de Walter Simonson e tinta de Dick Giordano, a história mostra a vez que o Coringa decidiu se presentear com uma doce vingança. Pra isso, ele sequestra os coadjuvantes importantes do Batman (da época): O Comissário Gordon, Dick Grayson, o Robin e a primeira-dama Selina Kyle durante uma das suas pausas como Mulher-Gato.
Na década de 70 e parte dos 80, o editorial decidiu que estava na hora de mais uma tentativa de fazer casalzinho entre a Mulher-Gato e o Homem-Morcego. Pra isso, Selina precisou ser purificada. A moral da época não permitia que nosso herói se envolvesse com uma de suas vilãs.

Outro diferencial é que nessa época, Bruce havia abandonado a caverna e a mansão e estava morando numa cobertura em Gotham que era frequentada por Lucius Fox, um personagem recém-criado que mais tarde, faria um certo sucesso nos cinemas.
Outros elementos que você não veria hoje em dia são o Coringamóvel e a Ha-Hacienda, o esconderijo criado para a série solo do personagem nos anos 70.
História simples e direta.
A história é bem simples e rápida. E a arte dinâmica do Simonson ajuda bastante. A arte-final de Giordano, por mais que deixe o traço de Simonson mais solto e em alguns momentos, sujo, funciona bem. Já dá pra identificar o artista que brilharia no Thor em 1983.
A proposta do Coringa é comemorar seu aniversário com uma grande explosão que matará os coadjuvantes sequestrados.
O Coringa faz um bolo gigante com velas cheias de explosivos que… bem, vai transformar a morte dos coadjuvantes num evento de gala. Tem até bolo e velinhas (explosivas). Uma para cada coadjuvante e ainda sobra um lugar especial para o Homem-Morcego completar a cartela.

Sob a alcunha de Confeitaria Arlequim, ele convida a todos os cidadãos para a sua festa, que o Batman acaba penetrando, só que para ajudar seus amigos, ele também aceita ser aprisionado. Como ele é o Batman, consegue salvar todo mundo das velas explosivas.
A história fecha com uma cena de perseguição que termina com uma das muitas mortes do Coringa.
O embrião do Coringa moderno.
É interessante ver que todos os elementos que fizeram o Coringa famoso já estavam lá.
Numa das cenas, o Batman usa a palavra maníaco homicida, o que é confirmado porque ele mata um dos seus capangas, o que não ri de suas piadas.
Apesar desse pequeno assassinato, ele não mostrou o sangue nos olhos que passou a ter após A Piada Mortal e acabou sendo a base de histórias como a Morte da Família.
Ainda era uma versão embrionária e menos chata. Se hoje em dia é praticamente impossível ter uma história do Batman sem que um membro da Bat-Família vá pro saco, naquela época eles tinham uma sobrevida maior.

Santa Era de Bronze, Batman!
O Batman da Era de Bronze tinha uma vantagem: era inteligente. O lado detetivesco do morcego foi ressuscitado no começo dos anos 70 e nas mãos de roteiristas capazes, essas características sempre rendia ótimas histórias.
Sim, havia umas derrapadas, mas chamar o criador do Monstro do Pantano e o reinventor do Thor não foi uma delas.
Eles funcionariam muito bem com qualquer versão do Batman.

É uma delicia ver uma versão antiga do Batman que não é a dos Superamigos nem depende do roteirismo para existir.
A história tem 41 anos e essa é uma versão mais crível do vigilante que reforça uma frase que virou moda anos depois: “O verdadeiro superpoder do Batman é o dinheiro, não o preparo”.
E faz sentido, não? Um Batman pobre e sem seus brinquedos, perderia qualquer pertinência.
A Geração Z e os fãs do personagem pós Cavaleiro das Trevas que me perdoem, mas ver um personagem cuja grande vitória está em superar suas limitações é bem mais interessante do que obrigar o roteirista a deixar os outros personagens menos interessantes para que o Batman possa brilhar.
Excelente análise. Batman bom é Batman que apanha, sua e sofre…
É isso que faz o sucesso do mangá. O personagem vai despreparado, só apanha e aprende a lutar no caminho.
O batman raiz é isso, né?