Terry Gillian e seu filme chamado Brazil
O que dizer de um filme em que o protagonista foge para seu cantinho particular onde abre suas asas e paira sobre uma selva de concreto que aumenta e diminui ao som de Aquarela do Brasil?

Brazil, o filme é uma mistura disso com 1984 ou situações similares.
Num país cujo nome não é revelado em momento algum, vive Sam Lowry (Jonathan Pryce) , um funcionário público que se recusa a subir de carreira, mas é pressionado pela mãe, a Sr ª. Ida Lowry (Katherine hemond) que aprendeu a usar o jogo da troca de influências para conseguir o que quiser, seja lá o que for.
Lowry é um homem cheio de sonhos e devaneios que vive numa ditadura autoritária e opressiva, uma bola fora da curva que apesar de ser obrigado seguir regras que não concorda e ter sua individualidade totalmente descaracterizada, se asila em seu lugarzinho secreto, onde além de sonha de voo, encontra a mulher dos seus sonhos, que ele descobre ser Jill Lawton (Kim Greist), uma testemunha que precisa ser apagada.

Nós nunca erramos, mesmo quando erramos:
O governo, que para reprimir atos de individualidade criou um código de vestimentas onde todos usam o mesmo tom de cinza, emitiu um mandado de prisão para Archibald ‘Harry’ Tuttle Robert de Niro), um engenheiro que tem o habito de consertar coisas que só devem ser acertadas por quem tiver os formulários certos. Graças a um problema na tinta, o T virou um B e um tal de Buttle foi caçado, aprisionado e executado.
Para garantir que nunca erra, mesmo quando comete um erro crasso, o governo decide fazer uma queima de arquivo e matar Jill Lawton, que além da esposa assustada, foi a única testemunha da derrapada.
Infelizmente, Jill é a mulher dos sonhos de Sam, que para salvá-la entra na maior confusão de sua vida. Pra começar, ele aceita a promoção que sua mãe conseguiu e passa a trabalhar no setor onde conseguirá as informações necessárias.
Para descobrir o paradeiro de Jill, pede ajuda ao amigo Jack Lint (Michael Palin) , que ele descobre ser um torturador do sistema, mas que até aquele momento era simpático a ele.

A confusão está formada.
O personagem parece ter um ímã para problemas. Além de se envolver com a testemunha, seu ar-condicionado central é consertado ilegalmente por Tuttle, o que acaba criando mais problemas do que soluções.
Junte tudo isso com uma série de carteiradas desengonçadas que ele acaba dando pra salvar Jill e a confusão está formada. Ele cria uma série de situações irreversíveis que já sabemos no que vão dar.
É uma bela comédia de erros.

O filme é de 1985 e tem Brazil no nome. Ele se passa no nosso país?
Não mais poderia. Um ano antes, ainda vivíamos sob um ditadura militar que não deve ter sido muito diferente do que vimos nas telonas. Tivemos nossa cota de torturas, atentados e terroristas. Em determinado momento, tivemos de trocar a cor das encadernações vermelhas pelo verde, uma vez que ter livros da outra cor era visto como simpatia pelo comunismo.
Não foram os tempos, mas inteligentes, nem os mais burros, só foram momentos em que não tivemos direitos.
Um ano antes, o filme poderia ate ter sido sobre nós, mas nunca seria. Como a música de Ary Barroso só tocava em seus momentos líricos, é seguro dizer que ele fugia para o Brasil, que era seu ‘lugarzinho especial”.
Era o espírito de uma época onde muitos personagens da literatura ou do audiovisual fugiam para o Brasil, onde seriam felizes.

Burocracia e vaidade.
No fundo, a intenção de Gillian era falar sobre uma ditadura genérica retrofuturista que poderia ser de direita ou de esquerda, criticar o consumismo e falar sobre os perigos de sonhar num mundo composto apenas por zeros e uns.
Pode-se até dizer que ele acertou quanto aos malefícios da busca pela juventude eterna, algo que mata pessoas cada vez mais jovens, que se acham velhas.
Se na época, ele criticou os perigos das cirurgias plásticas, hoje, ele falaria do Botox, do Silicone e de outros microprocedimentos que são aplicados sem a devida assepsia.
BRAZIL, O FILME
17 de outubro de 1985 No cinema / 2h 12min / Ficção científica, Drama
Direção: Terry Gilliam
Roteiro Charles McKeown, Tom Stoppard
Elenco: Jonathan Pryce, Robert De Niro, Kim Greist
Título original Brazil
SINOPSE
Sam Lowry (Jonathan Pryce) vive num Estado totalitário, controlado pelos computadores e pela burocracia. Neste Estado futurista, todos são governados por fichas e cartões de crédito e ainda precisam pagar por tudo, até mesmo pela permanência na prisão. Em meio à opressão, Sam acaba se apaixonando por Jill Layton (Kim Greist), uma terrorista.
A sequência de vôo em que ele vê brotar os prédios do meio do deserto virando a “floresta de pedra” foi a “inspiração” (ou seja descaradamente copiada) de Hans Donner para a abertura da versão de 1986 de “Selva de Pedra” da Rede Globo…
Oi, Alexandrre. Plus ça change plus c’est la même chose, né?
Sempre é bom ver que pessoas qe participaram do Metalingagem em algum momento ainda leem o site. Obrigado pela preferênca.Volte sempre.
Putz… Nunca fui muito fã de novela. Lembro da minha ex da época comentando pra mim e pro Nikki que ela ganhou o nome da persoagem da novela, mas eu tinha 15 anos e só ligava a TV pra ver desenho animado, série e programa de clipes. Vou dar um confere na referência. Eu tinha pensado na primeira edição do Miacleman, A Dream of Flying, até pq comprei os TPBs com os Runs do Moore e do Gaiman recolorizados e roubei o conceito, até porque Biafra nã ia rolar.