O Que Está te perturbando, Stephen?
O Que Está te perturbando, Stephen é um dos raros remakes dos quadrinhos.
Originalmente produzida pra ser a história principal de Doctor Strange Anual 1, de 1974, mas o dono da ideia e artista P. Craig Russel não ficou satisfeito com o produto final e quis fazer algo melhor. E foi o que aconteceu.
22 anos depois, com a ajuda do roteirista Mark Andreyko, ele produziu a fábula psicodélica “O Que Está te perturbando, Stephen”?
O grande barato de “O que está Te Perturbando, Stephen”? É que ele pode ser lido por qualquer um, sem amarras, bem diferente do anual do Doutor Estranho que sofreu não só por estar muito amarrado à cronologia da época como pelo excesso de texto que os roteiristas colocavam nos anos 70, que não só competiam como apagavam detalhes da arte.
Russel, em começo de carreira, estava tão verde que sua arte lembrava a dos artistas filipinos que faziam sucesso na revista Eerie e nos títulos de terror da Marvel, apresentava um traço mais evoluído. Sua arte está mais elegante e com influências europeias perceptíveis.

A história:
Após almoçar num restaurante chinês, o Doutor Estranho lê a seguinte frase num biscoito da sorte: “O que está te perturbando, Stephen”?
O mago supremo fica com a mensagem na cabeça o dia todo. Quando chega em casa, descobre que Wong foi sequestrado e segue num tour mágico e misterioso mágica para resgatar seu amigo.
Uma visita ao templo de Ganesha revela que seu destino é Ditkopolis, cidade que fica num planeta cercado de água e é controlado por Electra, uma misteriosa feiticeira que comanda um exército de esqueletos.

Conforme adentramos na cidade e descobrimos que ela está vazia, conhecemos Celeste, a irmã boa, porém obcecada pela estátua de um cisne.
É aquele velho esquema Eros e Tanatos. O pai morreu e deixou um espelho encantado que não só manteria a cidade viva como impedir que as irmãs se matassem, mas como toda regra tem uma brecha, Electra conseguiu enfeitiçar a irmã e o misterioso cisne, que na verdade, foi o pivô de toda a confusão.
Electra se apaixonou por Galtan, o homem que virou o cisne; porém Galtan só tinha olhos para sua irmã. Como a déspota de Ditkopolis não suportava amor moderno, disse: “Ela ou eu ou vai tudo pro inferno”.
Em meio a esse bizarro triângulo amoroso, Strange, que só queria salvar o Wong, tentou encontrar soluções para o dilema, porém a vilã, que resolveu peitá-lo, estourou o espelho por acidente e condenou a todos.
A essas todas, o Mago Supremo já havia libertado Wong, porém seguiu por lá para tentar salvar a todos, o que não acontece e ele acaba sendo devolvido para a sua realidade.

Simples assim?
Sim, é uma história simples que cabe nas 48 páginas da revista.
P. Craig Russel, que praticamente fez seu nome nas revistas do Elric retorna mais maduro a um dos primeiros personagens que trabalhou. O resultado são verdadeiras obras de arte que poderiam estar expostas em qualquer galeria.
Tudo é conceitual, até as fontes usadas para as falas dos personagens e os poucos recordatórios dessa versão da história.
É tão único que não conseguiriam repetir, mesmo que quisessem.
Diferente da edição Brasileira, que saiu por aqui pela Tudo em Quadrinhos pouco mais de um ano depois a versão que eu li é um encadernadão que não só coloca as duas versões lado a lado para que possamos comparar como nos mostra outras edições do personagem, algumas delas ilustradas por outros artistas que não o Russel.
É diversão garantida, ainda mais pra quem gosta do Doutor Estranho Clássico.