Dica de BD: HP e Giuseppe Bergman (+18)
Milo Manara é sinônimo de erotismo, certo?
Não necessariamente. Já leu HP e Giuseppe Bergman?
HP e Giuseppe Bergman é uma mistura de Jack Kerouak com Carlos Castañeda que o Italiano tanto ama.
A série nos apresenta Giuseppe Bergman, um adulto sem rumo que ganha uma espécie de prêmio e ganha o direito de viver a aventura de sua vida, seja qual for. Seu patrono é HP, um especialista que fará as vezes de mentor e guia.
Juntos (em boa parte do tempo) a dupla deixa o país em forma de bota para atravessar o Orinoco e viver aventuras na América Latina, onde encontram todo tipo de personagens e situações bizarras.

Mas afinal, o que é uma aventura pra você?
Pra começar, precisamos esclarecer um detalhe: HP é uma homenagem a Hugo Pratt, outro clássico artista italiano, famoso por entre outros motivos, ser o criador de Corto Maltese. Já Bergman é o próprio Manara, que se desenhou ao lado do amigo e parceiro de projetos.
Dois artistas consagrados, duas visões do que seria uma aventura e a certeza de que aventura é aquilo que você achar que for, algo que é comentado pelos personagens em mais de uma situação.
A tal da Metalinguagem:
HP e Giuseppe Bergman usa e abusa da Metalinguagem para questionar esses elementos. Não só pelo protagonista, que também é narrador e guia das histórias e quebra a quarta parede o tempo todo para comentar a história determinados incidentes como pelo HP, que questiona o questiona enquanto personagem.
Quando Giuseppe demonstra seu tédio pelo marasmo de sua aventura, HP comenta que uma vez que a aventura é guiada por ele, será tão chata quanto seu protagonista.

Faz sentido, não?
Dependendo da forma como é escrito, personagens podem ou não ser interessantes e te guiar através de diferentes tipos de aventuras.
Além de ser um estudo narrativo em forma de quadrinho, ao mostrar que todas as aventuras de HP saíram de sua imaginação, a Graphic Novel questiona se aventuras fantasiadas têm menos peso do que as vividas.

Mas ainda é Manara:
Apesar de toda essa camada filosófica, ainda estamos falando sobre um quadrinho do Manara. Erotismo, situações bizarras, algumas ligadas a drogas. Em alguns momentos, vemos caracterizações físicas de seus efeitos e elas lembrtam demais a arte de Robert Crumb, um dos papas dos quadrinhos underground dos anos 60.
Política?
Num determinado momento, Bergman leva uma surra por questões políticas.
Não, não é parte do questionamento direita X esquerda. Ele apanha porque é inerte. Não exerce seus direitos políticos nem faz nada para mudar o mundo que vive.
Se essa moda pegasse por aqui, viveríamos num corredor polonês onde boa parte dos Brasileiros acabaria ferido.

O que você precisa saber:
HP e Giuseppe Bergman, também conhecido como A Grande Aventura (como é conhecido na Cataluna e nos países de língua inglesa) foi publicado originalmente em 1978, em forma de capítulos na revista franco-belga À Suivre.
Posteriormente, foi adaptada para o formato álbum, onde fez tanto sucesso que gerou continuações: O Perfume de um Sonho ou Sonhar Talvez, Um Autor em Busca de Seis Personagens, Dies Irae e To See the Stars.
Nessas aventuras, Bergman viaja para lugares míticos como África e Índia. Em todas elas vemos as frustrações criadas por seu despreparo para viver as tais aventuras que abordam temas como arte, ilusão, fantasia, frustração, responsabilidade e a natureza humana.

E no Brasil?
Em 1988, a Editora Martins fontes pegou o encadernado que a Casterman lançou em 1980 e transformou suas 118 páginas num livro de bolso de 247. Apesar do tamanho extremamente reduzido, a diagramação ajuda a arte, que não perde tanto a qualidade.
Já Sonhar Talvez, que a editora publicou no ano seguinte, manteve o formato do original europeu.
Já conhecia HP e Giuseppe Bergman? Corre atrás que você vai adorar.
Ler Comics e mangá é bom, mas os quadrinhos não são só isso e você pode se surpreender gostando de coisas que nunca imaginou que existissem.
Você pode encontrar versões em Espanhol, Francês, Inglês e italiano (entre outras), mas se você não fala nenhuma dessas línguas, é só catar a versão da Martins Fontes nos sebos ou arriscar o Português Luso da Asa Editorial ou da finada Meribérica Liber, que nem são tão difíceis de achar por aqui.