Ms. Mystic, a personagem que pode ou não ter sido criada por Neal Adams
Maio está sendo um mês pesado. Perdemos George Pérez e Neal Adams, dois pesos pesados dos quadrinhos.
Na dúvida sobre quais trabalhos de Adams falar, encontramos dois petardos. Um e meio, na verdade: Lanterna Verde e Arqueiro Verde e… Ms. Mystic. Se o primeiro é conhecido por todos que lembram da famosa indagação sobre o motivo de o Lanterna Verde, que sempre ajudou pessoas de todas as cores nunca ter ajudado as pessoas de cor preta, Ms. Mystic é e não é uma criação independente que pode ou não ter sido criada apenas por Adams.

Confuso, né? A gente desenha:

A implosão DC:
Apesar da personagem ter sido introduzida ao público na primeira edição de seu título próprio, publicado pela Continuity, editora de Neal Adams, ela foi uma das convidadas da edição que mostrava a história da luta de Superman contra Muhammad Ali.
Na edição, era creditada como personagem da DC. E teria sido, se não fosse a “Implosão DC”.
A editora, que planejou uma grande expansão em seu seu universo, lançou vários títulos fracassados e quase faliu em 1978 ,quando não só cancelou os que havia lançado como travou o lançamento de outros.
Um deles seria um projeto escrito por Neal Adams e ilustrado por Michael Netzer que Paul Levitz já havia anunciado em algumas situações.
Ele disse, ele disse:

Em 1997, Michael Netzer contou uma história… curiosa. Segundo ele, Adams roubou sua criação.
Supostamente, vinte anos antes, em 1977, Adams se convidou para participar de um projeto feito a partir de uma ideia de Netzer. Ele era amigo de Vince Colletta, que havia entrado pro editorial da DC, o que provavelmente facilitou o projeto dos dois, mas o projeto foi cancelado e o desenhista do Batman assumiu a criação do personagem.
Na verdade, isso só aconteceu quando Adams conseguiu vender o projeto pra Pacific Comics que só contratava trabalhos autorais.O desenhista, que ficou anos atrás de Netzer pra que os dois continuassem o projeto, juntou a fome com a vontade de comer. E…
Ok, mas quem é a personagem?
Ms. Mystic é uma bruxa. Ela foi queimada em Salém, perdeu a forma corpórea e ficou presa numa forma astral por séculos, até recuperá-lo no século XX de uma forma muito mal explicada.
Sabe quando seu filho quer parecer inteligente e começa a falar difícil, floreando tudo que fala, na maioria das vezes, fazendo graça involuntária? É bem por aí.
Bem, a personagem é uma bruxa desmorta que vive histórias de cunho ambientalista. É uma mistura de Desafiador com Brother Power, the Geek, um personagem ligado à contracultura. Acaba sendo um tipo de Capitão Planeta anos antes dele ter surgido.
Ms. Mystic realmente tem aquele jeitão de personagem obscuro da DC, daqueles que um roteirista coloca na Liga da Justiça Sombria só pra dizer que conhece todo o universo da Editora. Tanto que na primeira página do primeiro número vemos o desafiador.

É uma cameo não creditada, porém confirmada por Netzer como sendo parte das 17 páginas que ele desenhou para a DC. Provavelmente teriamos uma personagem na primeira edição.
Um discurso tão politicamente correto e engajado que deixariam o Greenpeace com inveja.
E para combater nossa heroína, a fábrica não só enviou operários controlados mentalmente como criou um vilão clássico que ria quando fazia maldades, afinal, adorava ser mau como um picapau.
Poderes e habilidades:
Sim, ela é um tipo de Capitão Planeta. na verdade, Ms. Mystic é a famosa saladona:
Além da magia, ela pode voar, tem um grau de precognição, uma espada de luz e poderes elementais que vem do seu vínculo com a Mãe Natureza, uma força/entidade que quando convocada, sempre vem ao seu auxílio.
Numa dessas situações, a Mãe Natureza criou o supergrupo Urth 4, um grupo com poderes elementais claramente inspirado no Quarteto Fantástico, que ganhou um título de curta duração.
Ms. Mystic é uma ambientalista clássica, um pouco fanática que ama os bichinhos, as plantinhas e daria a própria vida por elas. Se eventualmente, isso ajudar a humanidade… tudo bem, mas não somos a prioridade dela.
Ela funciona como uma super-heroína só porque o autor quer, sob outra ótica, suas atitudes fariam dela a vilã, mas como ela luta pelo que muitos consideram ser certo e tem o aval dos ambientalistas, acaba sendo só mais um dos muitos gibizinhos questionadores dos anos 80.

Edições e editoras:
Neal Adams foi um desenhista visionário que mudou a forma como lemos os quadrinhos, mas a verdade é que ele nunca foi bom com prazos. Ele até se esforçou durante a passagem pelas Majors, mas…
Ms. Mystic sofreu com isso. O primeiro número da Pacific Comics saiu em 1982, mas o segundo e último, só apareceu em 1984.
Só voltamos a ver a personagem quando Adams lançou sua própria editora, a Continuity Associates, que entre 1987 e 1988 , republicou as edições da Pacific. Entre 1989 e 1992, foram lançadas edições anuais do título. Ao todo, foram lançadas nove edições do título.
Além da história que originalmente seria publicada em 1978 e tinha a arte de Mike Netzer, as outras edições também contaram com artistas que emulavam o traço de Neal Adams.
Foi durante essa fase que Netzer, o artista anteriormente conhecido como Mike Nasser decidiu processar Adams pelo direitos autorais de Ms. Mystic e de uma polêmica com outra criação da editora, Crazyman.
Quando um dos terroristas da história de Crazyman foi batizado com o nome do artista, ele resolveu partir pra uma briga que acabou perdendo, o que não o impediu de continuar afirmando que criou a personagem.
Ao que parece, se eles não se entenderam, ao menos Netzer demonstrou ter algum respeito por Adams na ocasião da sua morte.
Além das tentativas de manter um título regular, Ms. Mystic teve pelo menos duas minisséries e uma aparição num crossover da editora conhecido como Deathwatch 2000.
E esse é o caso de Ms Mystic, uma heroína obscura que pode ou não ter sido criada apenas por Neal Adams.
Você conhecia essa história? Tem o hábito de ler quadrinhos fora da bolha das grandes editoras? Comenta aí! Adoramos quando você faz isso.