Lembra da primeira aparição do Doutor Destino?
As primeiras edições do Quarteto Fantástico introduziram vilões memoráveis, mas poucos se comparam a Victor Von Doom.
Ao longo de seus 61 anos de existência, o Doutor Destino foi se tornando um personagem extremamente carismático.
O tal do Doutor Destino Raiz…
Como tudo criado nos primórdios do quarteto, ele meio que começou na gambiarra. Sua origem, que foi atualizada ao longo dos anos, foi contada logo na sua primeira aparição. Ele era um colega de faculdade de Reed Richards que tinha feito um estranho experimento que deu errado e o desfigurou. Ainda não era a origem completa, mas tinha tudo que precisávamos saber para entender o personagem.
Extremamente egocêntrico e narcisista, ele não deu ouvidos a ninguém, tentou algo além de sua capacidade e pagou o preço. Era tudo que precisávamos saber para entender sua obstinação e seguir com a história. Lee e Kirby não gastavam muito tempo com explicações.
Na história, o tecnomago cercou o Edifício Baxter com uma rede indestrutível, tomou Sue Richards como refém e obrigou os outros membros do Quarteto a viajar no tempo, até os tempos do pirata Barba Negra, para roubar um tesouro que o ajudaria a dominar o mundo.
O curioso é que na aventura, é insinuado que o famoso pirata, na verdade, era o Coisa disfarçado.
Para não chamar atenção, o grupo rouba um saco de roupas de outros piratas para deixar suas aparências mais condizentes com a época. Para disfarçar o monstruoso membro do grupo, eles cobriram sua cabeça com uma longa cabeleira e uma barba negra; além de um tapa olho e do clássico chapéu de pirata.
A partir dai é roteirismo puro. Eles são sequestrados por um grupo de piratas que acaba se tornando o bando do Barba Negra e o tal do tesouro que eles tanto procuravam acaba caindo no colo deles.
Conveniente assim.

No fim, eles dividem o tesouro entre a tripulação, enchem o bau de correntes e voltam para o presente, onde Destino quebra a cara e foge para lutar outro dia. Na verdade, na próxima edição, que também marca a volta de Namor, que será manipulado pelo déspota metálico como supostamente acontecerá em Wakanda Forever.
Bem, vamos lá…
Quem gosta das sagas complexas e dramáticas que levam edições para se resolver ou os que querem ver a versão moderna dos personagens podem não gostar da versão de Lee & Kirby.
Eles ainda estão tentando encontrar o tom e a voz dos personagens, assim como dos, seus inimigos. O Doutor Destino, por exemplo é meio que um inimigo genérico com uma ideia datada. Cobrir o edifício Baxter com uma rede? Reed Richards, não vai salvar Sue porque deu sua palavra de que não combateria Destino?
Alias, a Garota Invisível, né?
Caso você não saiba, ela só amadureceu sua alcunha 24 anos após sua primeira aparição e com dois filhos nas costas. Naquela época, ela, que atualmente é vista como o membro mais poderoso do grupo, era vista como inútil e indesejada.
As desvantagens de ser invisível…
Ela era só uma garota e não tinha habilidades físicas, além de ter aqueles desmaios e chiliques que as mulheres dos anos 60 supostamente tinham o tempo todo. Elas eram frágeis, né? As flores de nosso jardim.
A garotada preferia o Coisa e o Tocha, até porque eles eram cheios de testosterona e viviam brigando.
Não é como se uma pessoa invisível fosse capaz de ser furtiva e surpreender seus inimigos, né? Ela era tão mal escrita que beirava a inutilidade.
Outra questão é que se você tirar os constantes desentendimentos dos personagens devido as suas diferenças de personalidade e opinião e essa coisa meio de heróis locais, a estrutura narrativa não era diferente dos quadrinhos dos anos 40/50.
Os Desafiadores do Fantástico:
Se nesse começo ainda não fica tão claro que eles são uma releitura urbanóide dos Desafiadores do Desconhecido, grupo criado por Kirby nos anos 50, com a evolução das histórias e temas a coisa vai ficando difícil de negar.
Os Desafiadores também são ou passarem a ser por causa do Quarteto, um grupo composto por três caras com características semelhantes e uma loira, só que sem poderes.
Ah, claro… Você sabia que assim como o Doutor Estranho, o Doutor Destino era um mestre da magia negra? Stan Lee era obcecado por esse termo, mas acabou mudando pra deixar as coisas mais “família”. Magia negra é coisa do capiroto, né? E tinha aquele visual Bruxa do Mar Medieval, que até era legal, mas…

Uma curiosidade:
Na verdade, Von Doom aparece com dois visuais. Apesar de ostentar um visual mais terror medieval no miolo, a capa mostra um protótipo de sua armadura definitiva que estreou na edição seguinte a essa.
Alguma dúvida de que essa capa foi desenhada após o miolo e o Kirby e preferiu o novo visual ou simplesmente se esqueceu do antigo? Naquele começo da Marvel, Lee e Kirby faziam praticamente tudo e costumavam dar umas derrapadas.
Conclusão:
No fundo, a introdução do Doutor Destino e sua máquina do tempo foi só a desculpa para contar uma aventurinha de piratas. É interessante ver que um dos personagens mais complexos dos quadrinhos teve uma primeira aparição tão simples e estereotipada.
Não que isso seja ruim. Só estamos falando dessa história porque ela virou um divisor de águas para o quarteto e introduziu um personagem clássico, mesmo que de uma forma meio torta.
Como a editora não faliu e o personagem deu certo, não só Lee como os outros autores que vieram depois foram inserindo ou reinterpretando detalhes da história do personagem. Graças a isso, toda geração tem sua história “clássica” ou “definitiva” do personagem.
Algumas melhores que outras, mas todas interessantes.